O clipe da música “Pare. Preste Atenção!”, composta por mais de 40 artistas e cidadãos indignados com a proposta do projeto de lei 527/2016, que pretende mutilar 70% da Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana, já tem uma versão traduzida para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e com legendas em português.
A proposta busca reforçar que a conservação da biodiversidade e a busca por seriedade e transparência do poder público, que deve sempre atuar em favor do bem estar da coletividade, são causas democráticas e direito de todos.
A nova versão do clipe já está disponível no canal do Observatório de Justiça e Conservação (OJC) no Facebook e YouTube.
Desde que foi lançado, dia 29 de novembro de 2017, a versão original do clipe já ultrapassa 1 milhão e 320 mil visualizações e mais de 152 mil e-mails foram enviados pela população aos deputados da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP-PR), por meio do site www.osultimoscamposgerais.com.br exigindo a rejeição da proposta.
A tradução para Libras foi feita pela jornalista e intérprete da língua de sinais, Fernanda Bruni. Ela também é consultora em acessibilidade e inclusão em Curitiba. O convite para que fizesse a tradução partiu do Observatório de Justiça e Conservação (OJC), responsável pela viabilização e produção do clipe e do filme “Os Últimos Campos Gerais”, que torna públicas as ilegalidades e incoerências do projeto de lei.
“É gratificante perceber que uma população que costuma ser esquecida foi lembrada e valorizada por esta causa. Para a maioria dos surdos, o Português é a segunda língua. Muitos não a entendem e uma versão da música traduzida para Libras democratiza o entendimento da causa”, diz Fernanda.
Ela lembra que a tradução de algumas palavras para a língua de sinais, como “Escarpa Devoniana” e “Cânion Guartelá” foi desafiadora. “Nesses casos, escrevi as palavras letra a letra e procurei caminhos para que elas fossem compreendidas pelos surdos de forma clara”.
Fernanda diz que tanto o curta-metragem quanto o clipe a fizeram refletir sobre as belezas naturais do Estado do Paraná. “A APA da Escarpa Devoniana é o pulmão da região dos Campos Gerais e de Curitiba. Respeitar as porções dos ecossistemas nativos que existem na região é fundamental para o fornecimento de água e manutenção da vida em todas as formas. Precisamos não só ter orgulho dessa riqueza em biodiversidade, como exigir, cada vez mais, que um empreendedorismo limpo, honesto e planejado predomine em nosso país”, defende.
Por fim, ela lembra do fato de as unidades de conservação, estaduais ou federais, estarem abandonadas no Brasil, carecendo de atenção do poder público e cobrança da sociedade. “O grito de “Pare. Preste Atenção!” chega agora como um hino em favor da natureza”.
Um resumo da polêmica
A Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana localizada no Paraná, na região dos Campos Gerais, foi criada em 1992 para proteger importantes remanescentes de Floresta com Araucária e Campos Naturais, dois ecossistemas associados ao bioma Mata Atlântica, mas que sofrem com décadas de abusos, exploração desenfreada e ausência de fiscalização do poder público. Ela soma características únicas no Brasil e no mundo, com formações rochosas milenares, sítios arqueológicos, paleontológicos e cavernas ainda desconhecidas, além do expressivo valor histórico. A APA foi rota de tropeiros que passaram pela região dos Campos Gerais no século 18.
Em todo o Paraná, mais de 99% dos ecossistemas em bom estado de conservação já foram degradados. Uma pesquisa feita em 2001 pelo Ministério do Meio Ambiente em parceria com a FUPEF (Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná), por exemplo, revelou que existiam apenas 0,8% de Floresta com Araucária em bom estado de conservação em relação às porções originais da floresta do estado, que chegou a ocupar 40% do território paranaense.
A situação dos Campos é ainda mais dramática. Em sua distribuição original, eles já ocuparam 13% de todo o território paranaense, caracterizando fortemente as paisagens de maior altitude do planalto estadual. Um estudo de 2001 publicado pelo Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO/Araucária), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), apontou que, na época, havia somente 0,24% desse ecossistema em estágio avançado de regeneração em todo Paraná.
Na APA da Escarpa Devoniana, que é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável, a proteção da biodiversidade deveria conviver em harmonia com atividades produtivas que são permitidas na região, como silvicultura, pecuária e mineração, por exemplo.
O que ocorre, no entanto, é que o Plano de Manejo da área, que existe desde 2004, há anos vem sendo desconsiderado, bem como os limites de uso de solo. Não bastasse o fato de que muitos proprietários de terras da região não respeitam espaços que deveriam ser conservados, um projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP-PR) desde o final de 2016 quer reduzir 70% da área de proteção.
Se isso ocorrer, não apenas os ecossistemas que ainda sobrevivem por lá serão drasticamente afetados, como se instituirá uma espécie de “anistia” aos crimes ambientais executados por quem nunca respeitou a legislação e as demarcações indicadas pela delimitação da APA em 1992, ou pelo plano de manejo.
Status do Projeto de Lei
O projeto de lei 527/2016 que prevê a redução da área deve ser votado pelos deputados da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP-PR) ainda no primeiro trimestre de 2018, mas a proposta já tramita na casa com bem menos expressão em comparação a quando começou, no final de 2016.
O líder do governo do Paraná na assembleia, deputado Luiz Claudio Romanelli retirou em setembro de 2017 o apoio à proposta. Até então, ele era um dos autores do projeto de lei junto com os também deputados Plauto Miró e Ademar Traino, este último, presidente da ALEP. Na ocasião, Romanelli disse ter ouvido “a voz das ruas e dos ambientalistas, e feito autocrítica”. “Sempre defendi o meio ambiente, e creio que a redução do perímetro não é a melhor alternativa. Nunca tive compromisso com o erro e por isso retiro a minha assinatura do PL”.
O deputado disse também que trabalharia contra a aprovação e já havia feito apelo aos outros coautores para que todos arquivassem o projeto. Até o momento, Traiano e Plauto não retiraram a proposta de pauta. Os deputados da casa, no entanto, já sabem que a pressão popular para que a rejeição do projeto ocorra continua grande.
Para saber saber mais e falar com os deputados, acesse www.osultimoscamposgerais.com.br!
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