Acredito que todos nós recordamos do Dia da Árvore (21 de setembro) que é comemorado, há décadas, até nas mais remotas escolas do interior de Santa Catarina. Há pelo menos 30 anos, já nos ensinavam que uma das utilidades das árvores era o “sequestro de carbono”, ou seja, a retirada do Dióxido de Carbono (CO2) da atmosfera e a liberação do oxigênio. Fazer uma redação sobre o Dia da Árvore sempre foi o tema predileto da maioria dos alunos.
Lembro-me, também, que nas homenagens ao Dia da Árvore não poderia faltar a cerimônia do plantio de uma muda de pinus no pátio do colégio. Tentavam nos convencer de que, com aquele gesto, estávamos compensando as centenas de árvores gigantes e centenárias extraídas da Mata Atlântica que passavam todos os dias em cima de caminhões que estremeciam a sala de aula e apagavam a voz do professor com o ronco de seus motores.
Não demorou muito para percebermos que naquele cortejo fúnebre de caminhões não havia apenas árvores mortas. Junto com as toras de árvores majestosas da Mata Atlântica também estava sendo levada a biodiversidade de nossa fauna e a água de nossos rios.
Infelizmente, ainda hoje, achamos que podemos depurar nossa alma plantando uma muda de pinus. Acreditamos que uma floresta é a mesma coisa que uma plantação de árvores de espécies exóticas e toleramos o avanço da destruição da vegetação nativa. Quando destruímos uma floresta ou realizamos a extração seletiva de algumas espécies de árvores, perdemos para sempre uma quantidade inestimável de formas de vidas.
É triste observar os efeitos nefastos provocados pela extração seletiva das árvores (de valor comercial) nas áreas remanescentes de Floresta com Araucária, por exemplo. Há, de forma evidente, janelas ou buracos na oferta de frutos para a fauna. Os pássaros ficam famintos em certos períodos do ano. Várias espécies já desapareceram ou estão tornando-se raras. Durante o inverno, é comum encontrar pássaros mortos. Eles, que são grandes disseminadores das sementes das árvores, têm uma capacidade excepcional para memorizar a localização de cada árvore frutífera na floresta, e, durante o ano todo, visitam-nas na época em que cada uma frutifica. Deve ser uma situação desesperadora para o pássaro chegar faminto num local marcado e não encontrar mais a árvore que nunca lhe negara frutos saborosos.
Uma das espécies mais cobiçadas da Mata Atlântica é a palmeira-juçara (Euterpe edulis), para extração do palmito. Já foi extinta em vários lugares no Brasil. Em Santa Catarina, já está ficando rara e caminha a passos largos para a extinção, como ocorreu em outros Estados. Parece ser irreversível o final trágico para esta árvore tão fundamental à saúde de todo um ecossistema. Não há mais palmeiras adultas de palmeira-juçara em vários fragmentos considerados como “intocados”. A avifauna (tucanos, araçais, araquãs, jacus, sabiá-preto, etc) que dependem diretamente de seus frutos no período do inverno, está igualmente desaparecendo. A abundância dessa palmeira era para garantir o suprimento de frutos nos anos com condições climáticas desfavoráveis, quando menos de 1% delas frutifica. Um vidro de palmito-juçara, portanto, não contém apenas 300 gramas de palmito. Concentra também a interrupção da vida de alguns tucanos, araquãs, sabiás-pretos, jacus, araçais e muitos outros animais silvestres.
Não podemos negar que estamos arruinando o planeta, e talvez até inviabilizando a vida de nossa própria espécie já num futuro bem próximo. Vamos aproveitar o Dia da Árvore para avaliarmos melhor o significado da vida. Temos 2% de coincidência de material genético com as árvores, o que prova que tivemos a mesma origem. Já derrubamos mais florestas do que o necessário para nosso conforto. Vamos dar uma chance para a vida perpetuar no planeta.
Germano Woehl Júnior é doutor em física e conservacionista pelo Instituto Rã-Bugio.
Acesse este artigo no Blog do Planeta.
The post A diferença entre “plantar árvores” e conservar remanescentes appeared first on Observatório de Justiça e Conservação.