No livro “Produção de Natureza” (2018), ainda não editado para o português, o biólogo e conservacionista espanhol Ignácio Jimenez, com experiência profissional exitosa em vários continentes, explora um terreno ainda pouco conhecido, que amplia a condição de sucesso de ações voltadas à proteção da natureza no mundo. Ele cria e defende o termo “Produção de Natureza”.
O conceito permite posicionar a agenda conservacionista não apenas como fim, mas como meio efetivo e concreto para a obtenção e ganhos para o meio ambiente, mas também para toda a sociedade.
Adicionalmente, percebe a importância crítica de se explorar com maior profundidade o desafio de comunicar esse pleito com as diferentes instâncias da sociedade. E isso requer, preponderantemente, um melhor entendimento prévio sobre os singulares pontos de vista de cada um dos atores envolvidos no processo.
Há interesses econômicos que buscam de maneira determinada antagonizar a conservação com oportunidades convencionais de desenvolvimento – o desafio passa a ser integrar a conservação com modelos de desenvolvimento coerentes e qualificados.
A percepção acurada de Ignácio só foi possível a partir do reconhecimento da complexidade da agenda que corresponde fazer conservação da natureza. No livro, ele evidencia que não bastam o conhecimento científico, a qualificação técnica e as constatações óbvias sobre a necessidade de se proteger as áreas naturais. Um esforço adicional que envolve promover e articular essa agenda com os múltiplos atores envolvidos é tarefa crucial para a obtenção de resultados e sucessos efetivos.
Democratizar a explicação para o termo “produção de natureza” representa uma abertura para que um entendimento distinto sobre as áreas naturais passe a gerar maior interesse da população.
Yelowstone, Yosemite e Kruger, por exemplo, são parques nacionais que mantêm forte atividade econômica em seu entorno, gerando diversos empregos e renda em razão da natureza bem cuidada. Esses locais aproveitam as vantagens de uma economia dependente da qualidade dos investimentos em ações de conservação.
Outro exemplo emblemático de produção de natureza é a agenda centenária da cidade de Nova Iorque, que executa ações de aquisições de áreas naturais e acordos de conservação com proprietários locais em áreas distantes até 200 quilômetros da cidade. Tal decisão permite a provisão de água de qualidade à cidade. Também fornece condições de sustentar o abastecimento barato do recurso a uma das maiores cidades de mundo.
Que tal, portanto, aproveitemos o Dia do Conservacionismo, lembrado nesta semana, para refletir sobre a importância de compreendermos e valorizarmos cada vez mais a proposta de “produção de natureza”? Ao contrário do que ainda se sustenta, a conservação da biodiversidade é pilar indissociável do desenvolvimento saudável e de longo prazo, que traz efetivas condições de qualidade de vida a toda a sociedade. Dependemos disso para viver. Para sobreviver.
Clóvis Borges é diretor-executivo da SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental) e conselheiro do Observatório de Justiça e Conservação (OJC).
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