Mais de 40 artistas paranaenses se uniram em defesa da Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana, a maior unidade de conservação do Sul do Brasil, que fica na região dos Campos Gerais, no Paraná. Eles criaram uma música para traduzir, por meio da arte, o que está em jogo com a proposta do projeto de lei 527/2016, que tramita na Assembleia Legislativa do Paraná desde o final de 2016, e prevê mutilar 70% da APA. Só por meio do Facebook, menos de dois dias depois do lançamento, que ocorreu na manhã da quarta-feira, dia 20, canção já alcançou mais de meio milhão de pessoas e foi visualizada mais de 126 mil vezes.
Desde que foi criada, em 1992, a APA não têm os limites de uso do solo respeitados por atividades produtivas que predominam na região de modo excessivo e irresponsável, comprometendo o direito da coletividade em exigir um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
A ideia da música foi pensada pela cantora e compositora Raissa Fayet e pela advogada Laísa Musial, que, convidadas a gravar um depoimento em defesa da área, perceberam que poderiam fazer mais: reuniram, então, os artistas que, juntos, gravaram a canção “Pare. Preste Atenção!”.
Raissa conta que o grupo foi movido pela intenção de ajudar e contribuir com a transparência. “Queremos chamar a atenção para essa causa, que deve ser de toda a sociedade. Os ecossistemas que existem na região, as porções de Campos Naturais e Floresta com Araucária, estão gravemente ameaçados pela proposta de redução da Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana”. “Precisamos salvar o pouco que restou. Nosso futuro está em jogo”, completou Laísa.
Financiada pelo Observatório de Justiça e Conservação (OJC), a gravação das imagens foi feita pelo HAI Studio, de Luciano Meirelles e Leticiah Futata, que também assinam captação e a codireção do clipe.
O clipe e a música podem ser vistos no Facebook e canal do YouTube do OJC, responsável pelo apoio financeiro, viabilização do clipe e fornecimento das imagens, gravadas para o curta-metragem “Os Últimos Campos Gerais”, lançado dia 27 de outubro. Ele denuncia as ilegalidades e incoerências que permeiam o projeto de lei 527/2016 e estimulou ainda mais o envolvimento dos artistas na criação da música. Giem Guimarães, presidente do Observatório, também se envolveu diretamente na coordenação, produção e edição do vídeo.
Artistas envolvidos
Assinam a construção musical os artistas Du Gomide, produtor da canção, Rogéria Holtz, O Vagabundo Nato, Marano, Lucas Ajuz, Dow Raiz, os instrumentistas Galeno de Castro (percussão) e Renan Henche (baixo), Bernardo Bravo, Dow Raiz, Gus Benke, Karla Keiko, Laís Mann, Lucas Lepca, Nathalia Picoli, Rodolpho Grani, Rodrigo Lemos, Thais Morell, Ticho Looper, Tuyo, Veronica Rodrigues e Uyara Torrente.
Também participaram Leo Fressato, Ana Larousse, Daniel Dach, Galeno de Castro, Juliana Zaniolo, Kelly Eshima, Lucas Ajuz, Ravi Brasileiro, Renaclo Filho, Rimon Guimarães, Vivian Reinmann e Tim Kenny.
Henrique Paulo Schmidlin, o respeitado montanhista e ativista ambiental mais conhecido como “Vitamina”, o humorista Diogo Portugal e o ator global Luis Melo, narrador do curta, também se envolveram nos trabalhos em defesa da APA da Escarpa Devoniana.
A mixagem e masterização da música são assinadas por Fred Teixeira. Fábio Farina fez a pré-produção da canção. O Rancho Ventania, em Balsa Nova, foi o local externo utilizado para a gravação de parte das imagens que aparecem no clipe, que também teve apoio direto de integrantes do Hub Verde, um coletivo de profissionais de diversas áreas de atuação parceiro do Observatório, e que trabalha em ações em prol da conservação da biodiversidade.
No YouTube do Observatório, há, ainda, uma versão com legendas em português e tradução para libras feita por Fernanda Bruni e colaboração de André Gomides e Gabriel Teixeira. Em breve, haverá outra em inglês.
O curta-metragem “Os Últimos Campos Gerais” pode ser assistido no canal do OJC no YouTube, bem como o trailer do filme e um pequeno vídeo sobre o lançamento, no final de outubro.
Desde que foi tornado público, o curta já estimulou o envio de mais de 56 mil e-mails aos deputados da ALEP-PR, pedindo o arquivamento do projeto de lei. Filme e clipe já somam mais de 325 mil visualizações.
Sobre a APA da Escarpa Devoniana
A APA da Escarpa Devoniana é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável criada por um decreto em 1992 para garantir as condições necessárias para a produção agrícola conviver em harmonia a conservação da biodiversidade.
Na região, ainda ocorrem alguns dos últimos remanescentes de Campos Naturais e Floresta com Araucária do Paraná, dois ecossistemas associados ao bioma Mata Atlântica e em extinção em virtude da expansão ilegal e desordenada de atividades como o plantio de soja, a mineração e o cultivo de espécies exóticas, como o pinus e o eucalipto. Se o Projeto de Lei 527/2016 for aprovado, vai abrir um grave precedente para a fragilização de inúmeras Unidades de Conservação estaduais e federais.
Como já explicaram o Ministério Público do Paraná e a OAB-PR, o projeto de lei é inconstitucional primeiro por ignorar os requisitos técnicos e procedimentos participativos inerentes à alteração de limites de Unidades de Conservação; segundo por representar um retrocesso na proteção ambiental de unidades já formalmente criadas; e terceiro por negar os compromissos nacionais e internacionais assumidos pelo Brasil com a preservação dos recursos naturais e da biodiversidade, colocando em risco importantes ecossistemas associados ao bioma Mata Atlântica.
Nas bordas da APA, ficam também Unidades de Conservação importantes, como o Parque Estadual de Vila Velha, cujo platô de arenitos – bem como as rochas que sustentam a Escarpa Devoniana – foram formadas há 400 milhões de anos. A redução da APA, portanto, comprometeria não só unidades que estão em seu interior, como o Parque Nacional dos Campos Gerais, criado pelo governo federal em março de 2006, mas outras áreas próximas que precisam ser protegidas.
Valor histórico e cultural
O local também tem um imenso valor histórico e cultural, que não vem sendo considerado pelo Projeto de Lei. Além de concentrar importantes e ainda desconhecidas cavernas, sítios arqueológicos e paleontológicos, pinturas rupestres e abrigar incontáveis formas de vida, a APA foi rota de tropeiros que passaram pela região no século 18.
Graças a eles, as vilas, e mais tarde cidades dos Campos Gerais, foram surgindo. O trajeto foi escolhido pelo grupo, por ser repleto de Campos, que forneciam uma visão mais ampla se um animal se perdesse ou se houvesse ameaça, garantindo uma visão mais privilegiada em relação a um percurso dentro da mata fechada.
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