Pandemias, emergência climática e perda da biodiversidade exigem soluções globais e atitudes

Os problemas decorrentes de doenças e de causas ambientais que afetam a humanidade não são um fenômeno recente. Ao longo da história, nossa existência está repleta de situações de risco causadas por epidemias de alta mortalidade, somadas a efeitos decorrentes de alterações ambientais, por uma enorme variável de circunstâncias. 

A população mundial ultrapassou os sete bilhões de seres humanos e a enorme pressão de desenvolvimento e o fenômeno da globalização não refletem apenas uma modelagem de negócios que foi incorporada no dia a dia da sociedade. As consequências de um mundo com distâncias cada vez mais reduzidas, intensamente populoso e com uma crescente demanda pela exploração de recursos naturais renováveis e não renováveis, gera impactos indesejáveis em todos os países do mundo. 

O respeito aos limites da natureza, que deveria ser uma conduta a ser rigorosamente atendida por todos, segue reiteradamente desprezada ao longo da história. Os prejuízos coletivos amplificados de maneira generalizada em casos como o do coronavírus são o resultado de nossas falhas recorrentes em respeitar o meio ambiente. 

Em tempos passados, ocorrências, por mais que fossem catastróficas, não apresentavam a capacidade de se espalhar rapidamente e por todos os lugares, como estamos observando agora, como o novo coronavírus, originado há alguns meses na China. As epidemias deixam de representar um problema isolado em algum ponto do planeta e se tornam pandemias com enorme facilidade e rapidez. O mundo menos populoso e com menor capacidade de deslocamento de pessoas e produtos tinha maior resiliência a pandemias. Muito embora outras condições existentes em décadas passadas também representassem risco e fragilidades. Em especial a tecnologia limitada para enfrentar situações extremas de doenças transmissíveis, como o surgimento das vacinas, por exemplo. A tecnologia nos dias atuais é fator determinante para minimizar problemas de toda ordem. Mas não pode ser vista como a única forma de enfrentamento de um problema, como muitas vezes se apregoa. 

Antes da Revolução Industrial, as emissões de gases de efeito estufa geradas por ações antrópicas não tinham praticamente nenhuma expressão. A partir daí, paulatinamente e até os dias atuais, causamos uma crescente sem controle que coloca o planeta em situação de emergência climática. As consequências desse fenômeno de escala significativa, já são sentidas há décadas e se intensificam ano a ano. 

Com maior intensidade e iniciada muito antes do uso dos combustíveis fósseis e do incremento da indústria, dependendo da região do planeta, a degradação do meio ambiente foi devastadora, com a supressão de áreas naturais para a agricultura, pecuária e implantação de vastos ambientes urbanos. Essas atividades seguem rumo igualmente crescente, colocando em risco de extinção cerca de 50% das espécies hoje presentes na Terra, até o final deste século. 

A simplificação de ambientes avança nas últimas fronteiras ainda com características naturais originais, com o aval de governos e grupos econômicos, como é o caso da Amazônia brasileira ou da Mata Atlântica. O desaparecimento de ambientes naturais bem conservados já representa uma extensão substancial de áreas marinhas e terrestres. Junto a essas áreas naturais também estão sendo perdidos serviços ecossistêmicos que representam colaborações fundamentais e extremamente valiosas proporcionadas pela natureza para a qualidade de vida e capacidade de desenvolvimento econômico. 

A relação entre saúde e contato com a natureza está sendo seriamente contextualizada nos últimos anos, identificando-se uma relação direta entre bem-estar e boa saúde com a frequência ao desfrute em áreas naturais bem conservadas. No entanto, cada vez mais pessoas são prisioneiras de ambientes estéreis, em áreas rurais ou urbanas de paisagem pesadamente empobrecida e envenenada, vivendo em cenários monótonos e destituídos da presença da natureza em sua condição plena. 

Todos estamos sendo atingidos por estes problemas crescentes, com maior ou menor condição de risco. Em especial as populações mais pobres são aquelas mais intensamente afetadas por mazelas que se apresentam a todo momento. O respeito aos limites da natureza, que deveria ser uma conduta a ser rigorosamente atendida por todos, segue reiteradamente desprezado ao longo da história. Os prejuízos coletivos amplificados de maneira generalizada em casos como o do coronavírus são o resultado de nossas falhas recorrentes em respeitar o meio ambiente. 

Mais assustador ainda é perceber que muitos dos atuais gestores públicos não têm qualquer qualificação para o crítico enfrentamento que se faz necessário. Estão comprometidos por interesses menores. Vivem num mundo hipócrita de inverdades e perderam a dimensão da realidade usando do poder para sustentar posições contrárias à lógica e ao bom senso. Criminosamente, deixam nossas chances de reverter o quadro atual cada vez mais distante e perigosamente irreversível. 

Clóvis Borges é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e conselheiro do Observatório de Justiça e Conservação (OJC). 

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