Frequentando e tendo residência no litoral do Paraná desde que nasci, percebo que, em quase todas as rodas de conversa que tratamos da região, existem diversos indivíduos que defendem o discurso de que “o desenvolvimento não chegou aos sete municípios por causa do meio ambiente”.
Cheguei a me espantar certa vez, quando eu ainda ocupava o cargo de Secretário do Meio Ambiente de Paranaguá, e um munícipe
tudo era a Mata Atlântica”. Afirmo que são absolutamente infundados os argumentos desses “palpiteiros” que tentam achar um caminho para o tal “desenvolvimento” que não passe pela valorização dos recursos naturais de toda a Bacia Litorânea.
A Mata Atlântica é um bioma de suma importância para a nossa qualidade de vida. Ela contém cerca de 20 mil espécies vegetais, representando, aproximadamente, 35% das espécies existentes em todo o Brasil. Originalmente a Mata Atlântica compunha 15% do território brasileiro e cobria 17 estados. Hoje, restam menos de 7% da sua área original, tamanho o grau de devastação e da ausência de fiscalização das irregularidades cometidas contra esse ecossistema. O território paranaense tem 98% de seu território nesse bioma. Esse ambiente é considerado um hotspot mundial, ou seja, é uma das regiões com a mais alta prioridade para a conservação de biodiversidade do mundo. O litoral do Paraná também é privilegiado por ser o “guardião” de parte desse conjunto de vida vegetal e animal, onde habitam 145 milhões de brasileiros.
Não podemos mais acreditar que desenvolvimento é sinônimo somente de indústrias. Precisamos ampliar as opções de trabalho. Para desenvolver uma região, é preciso agregar critérios ambientais, sociais e econômicos nos planos de ação. O turismo tem a capacidade de fomentar a sustentabilidade de forma harmônica e duradoura. Aquilo que alguns defendem que seja o “passivo” do nosso litoral é, na verdade, um grande “ativo” a ser aproveitado.
Temos algumas das mais exuberantes paisagens e um patrimônio animal e vegetal que pode conceder uma melhor qualidade de vida à nossa espécie (e às demais também). Com aproveitamento inteligente desses recursos, geram-se empregos e renda para os mais de 300 mil habitantes da Bacia Litorânea.
As Atividades Características do Turismo que englobam a produção de bens e serviços envolvidos nas atividades econômicas, ao serem analisadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostram que, em 2017, o Paraná ocupou a quarta posição nacional com percentuais próximos aos 6% de empregos relativos ao turismo. Temos um enorme potencial de crescimento no turismo cultural, religioso, rural, gastronômico, náutico, de pesca e, principalmente, no ecoturismo. Entre 2017 e 2018, o Paraná ficou em 4º lugar como o Estado brasileiro com maior número de empregos em hospedagem (19,4 mil empregos). Também ocupou o 4º no ranking de chegada de turistas internacionais (948 mil), o 5º com o maior número de empregos em Agências de Viagens (4 mil empregos) e o 6º com o maior número de estabelecimentos em hospedagem cadastrados no CADASTUR (564).
Devemos, portanto, incentivar uma mudança de mentalidade para que tenhamos, finalmente, a compreensão comum de que o nosso verdadeiro tesouro é a Mata Atlântica. Que ela não representa impedimento ao desenvolvimento. E sim, conserva riquezas imensuráveis. A Mata Atlântica precisa ser valorizada e aproveitada de modo sustentável, a fim de trazer o verdadeiro desenvolvimento que o litoral do Paraná necessita, mas com bases sólidas firmadas nos princípios do ecodesenvolvimento.
Raphael Rolim de Moura – Raphael Rolim de Moura é biólogo, professor universitário, especialista em Gestão e Planejamento Ambiental. Tem MBA em Gestão Pública e é mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento. É diretor geral da Comec e parceiro do Observatório de Justiça e Conservação.
Este artigo foi veiculado na Plural.
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