Os sons que partem suaves da garganta de 450 metros de profundidade misturam o eco da natureza e cantos de pássaros. Com um pouco de atenção, é possível ouvir o barulho de outros animais nativos, únicos dessa região.
Nessa paisagem singular, cresceu o fotógrafo e documentarista Maurício Martins Pereira, que busca na relação com a natureza, inspiração e fonte de renda. Além de produção de fotos e filmes, também se dedica à vida acadêmica, como professor universitário.
O Guartelá é o maior cânion do Brasil, e está inserido na Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana. Nesse espaço, Maurício cresceu e desenvolveu uma relação muito próxima com os animais nativos, como o lobo-guará, maior canídeo da América do Sul e que corre risco de extinção. O lobo da foto foi acompanhado por Maurício durante dois anos e sempre frequentava o sítio onde ele cresceu. Certa vez, chegou até a “roubar” sua máquina fotográfica.
Mas quem conta os detalhes das fotografias é o próprio Maurício. Ao fim, vamos deixar um QR Code para você acessar o documentário produzido por ele sobre o Cânion Guartelá. Aproveite essa viagem por meio das fotografias.
“Em que direção seguimos se não soubermos de onde saímos? Minha raiz está nesse cânion, lugar onde tudo começou, onde meu bisavô Nhoca vivia em sua Toca. Posso rodar o mundo, mas quando me deparo com essa paisagem é mágico. Documentar e registrar a paisagem e a cultura guartelhana é, sem dúvida, o grande combustível da minha vida.
Este é o maior cânion do Brasil e o sexto do mundo. O Guartelá é formado pelo Rio Iapó, tem 32 quilômetros de extensão e 120 milhões de anos. Sua formação começou juntamente com o nascimento do Oceano Atlântico. As paredes foram sendo elevadas e o rio continuou escavando e seguindo seu curso. O mais interessante é que o Rio Iapó segue para o interior do Paraná, em vez de descer sentido litoral. Isso se dá pelo fato de o rio ser antecedente à formação do cânion.”
“Amanhecer nos campos nativos. Desta vez tive sorte e o dia amanheceu limpo sem uma nuvem no horizonte. Apenas 15 minutos de caminhada, mate pronto, tripé posicionado e foi só esperar o momento decisivo do click.” “À primeira vista, pode parecer apenas um rancho velho, mas é uma das mais fortes representações culturais dos guartelhanos. Nesses ranchos, os homens guartelhanos viviam durante toda a semana produzindo sua roça para subsistência. Sábado era dia de subir a serra para visitar a esposa e os fi lhos, vida dura e difícil, mas de imensa paz e tranquilidade. Vizinho a esse rancho ainda tem a pedra da Toca onde meu bisavô Nhoca vivia igual índio, aproveitando-se do abrigo natural. Ir até esse lugar é um ritual pra mim. Minha origem está aí!”
“Tibagi é incrível para astrofotografia. A cidade pequena emite pouca poluição luminosa e o Guartelá, nas partes altas, chega até 1.150 metros em relação ao nível do mar. Estava de passagem pela cidade e olhei pro céu, e a condição estava incrível. Chamei os amigos para me acompanhar e produzirmos algumas fotos.”
“Além de toda a beleza cênica, o Guartelá é rico em história e cultura. Passaram por aqui índios que deixaram vários sítios arqueológicos e tropeiros que se instalaram e formaram a cultura guartelhana. Tive o prazer de dirigir um documentário intitulado Guarda te lá que aqui bem fi co, no qual resumo o que esse lugar incrível do Brasil representa.
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