A partir de um modelo matemático, estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, concluiu que 10% de todas as espécies de animais vertebrados terrestres ainda a serem descobertas estão no Brasil – especialmente na Amazônia e na Mata Atlântica. As estimativas dos pesquisadores indicam que conhecemos menos de 20% de todos os seres vivos do planeta. A ciência descreveu formalmente cerca de 1,8 milhão de todos os tipos de organismos. As conclusões da pesquisa reforçam ainda mais a importância da conservação de áreas naturais, sob pena de devastarmos espécimes sem antes sequer terem sido descobertas.
O estudo foi conduzido pelo doutor em Ecologia Mário Ribeiro de Moura, professor da UFPB, e pelo também biólogo e ecólogo Walter Jetz, da Universidade de Yale.
Em entrevista exclusiva ao Observatório de Justiça e Conservação, Moura explicou que a ideia da pesquisa começou durante um trabalho de pós-doutorado dele sobre determinantes geográficos para a descoberta de espécies na Mata Atlântica pela Universidade Federal de Uberlândia (MG). Pouco depois, ele foi aprovado para o pós- -doutorado em Yale. Nos Estados Unidos, passou dois anos desenvolvendo o Mapa das Espécies Desconhecidas – nome da pesquisa divulgada em março deste ano, reunindo informações para quase 33 mil espécies de anfíbios, répteis, aves e mamíferos do planeta.
“Quase metade das espécies desconhecidas do planeta estão em florestas tropicais, como a Amazônia e a Mata Atlântica. Como o Brasil é o país que abriga a maior porção dessas florestas, ele acaba se destacando. Já temos um país megadiverso, com destaque internacional no que se refere aos níveis de biodiversidade. Mas esse estudo indica que nossa biodiversidade deve ser ainda maior”, disse Moura ao OJC.
Dentre os quatro países do mundo que abrigam 25% da estimativa dessas novas espécies – os outros são Colômbia, Madagascar e Indonésia –. O Brasil concentraria cerca de 10% desses animais ainda não descritos pela ciência, um total que pode chegar a 20 mil espécies desconhecidas. O modelo matemático partiu de 33 mil espécies de animais terrestres vertebrados já descobertos. A partir deles, das regiões onde foram descobertos e do ritmo de descoberta de novas espécies, os pesquisadores traçaram um modelo matemático para determinar as probabilidades de novas descobertas. As melhores oportunidades são de répteis, com 47,3%, seguidos de anfíbios (32,8%), mamíferos (13%) e aves (6,9%).
O problema é que o país vê crescer seu índice de devastação de áreas naturais, justamente onde essas espécies podem e deveriam ser descobertas. Levantamento recente do Instituto Imazon mostrou que o desmatamento na Amazônia em 2020 foi de 8 mil quilômetros de floresta, 30% a mais do que o de 2019 e o maior nos últimos 10 anos.
Já a Mata Atlântica, uma das florestas tropicais mais exuberantes do planeta e quase tão diversa quanto a Amazônia, viu seu ritmo de desmatamento voltar a subir depois de dois períodos de queda. De acordo com o último relatório feito pela ONG SOS Mata Atlântica e pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais), 27% da mata foram destruídos de 2018 para 2019 – uma perda de 14,5 mil hectares de vegetação.
O tamanho atual da Mata Atlântica corresponde a 13% do original. Apesar disso, 1.8 milhão de hectares de floresta tropical sobrevivem com uma enorme e diversa vida selvagem, montanhas, cavernas, cachoeiras, baías, manguezais e praias do oceano Atlântico.
Modelos matemáticos já apontaram que até 59% das extinções que vêm ocorrendo são de espécies que ainda não foram catalogadas cientificamente. “Sem a descrição formal, permanecemos ignorantes sobre os possíveis valores ecológicos, serviços ecossistêmicos, e/ou relevância econômica dessas espécies”, afirmou Mário Moura.
Mapa das espécies desconhecidas nasceu de estudo sobre ‘‘espécies de gaveta’’
As espécies ainda a serem descobertas, muitas vezes, são coletadas em expedições realizadas para coleta de espécies em extinção para estudos em laboratório. Essas espécies desconhecidas são então depositadas em coleções científicas, como museus e herbários, para depois serem formalmente descritas por taxonomistas. Mas o intervalo de tempo até a classificação em alguns casos demora mais de 100 anos.
Essa é a conclusão de outro estudo feito pelo biólogo Mário Moura, que tentou responder à pergunta sobre o porquê disso ocorrer. Ele utilizou répteis como organismo modelo para buscar respostas e analisou mais de 2.600 espécies descritas ao longo de 25 anos (entre 1992 a 2017).
“Vimos que para este grupo de organismos, o ‘tempo de gaveta’ (tempo entre a coleta e descrição) variou entre zero a 155 anos. Mais de um quarto das espécies estudadas ficaram ‘engavetadas’ por 12 anos ou mais antes de serem descritas. Uma espécie de lagartixa do Sri Lanka, conhecida como Cnemaspis amith, ficou engavetada por 155 anos”, disse Moura.
Essa demora ocorre, segundo concluiu o estudo, por conta do baixo investimento em ciência no país, inclusive na formação de mais taxonomistas.
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