Quem tem participação nos resultados pretendidos em Pontal do Paraná?

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O advento do Lava Jato coloca a público as vísceras das negociações espúrias entre governos, políticos e empresários de toda a sorte. Somam-se arranjos de qualquer tipo, à escolha do freguês. Decorrente dessa situação, o Brasil tem hoje uma população que desconfia da sombra. E nada é considerado impossível nas novas artimanhas da bandidagem que, efetivamente, toma conta do país.

Grandes obras de hidrelétricas na Amazônia, como Belo Monte, assinalam que todo o esforço de forçar um licenciamento controverso e apontar alguma justificativa de sua necessidade, objetivava a geração de grandes movimentos de recursos direcionados à corrupção. Os brasileiros não suportam mais. É necessária total transparência em qualquer obra que gere impactos, como novas hidrelétricas, estradas e portos, por exemplo. No Paraná, o recém-empossado governo querer discutir melhor a proposta da Faixa de Infraestrutura de Pontal do Paraná. A medida vem sendo considerada um ponto positivo pelo grande número de cidadãos preocupados com a falta de clareza dessa iniciativa governamental.

Até porque, há inúmeras inferências quanto ao sucateamento dos órgãos ambientais do Estado, somada a ingerências absurdas que vêm ocorrendo sistematicamente ao longo dos últimos sete anos e meio. Quem dirige, de verdade, os órgãos ambientais, tudo indica, são, justamente, aqueles que demandam licenciamentos ou vistas grossas para cobrir crimes contra a natureza, como desmatamentos, poluição e outros ilícitos.

Essa discussão obrigatoriamente deve alcançar a verdadeira motivação da estrada, apelidada pelo governo como “Faixa de Infraestrutura”. São os atuais governantes que devem esclarecer se o objetivo desse investimento é atender aos interesses de um porto privado do Grupo JCR, de João Carlos Ribeiro, empresário muito conhecido na região. E também de uma sequência de empresas de grande porte que, igualmente, pleiteiam instalação na região, como a Odebrecht, Techint. SubSea 7, Neoport e Catallini, por exemplo.

O novo governo deve explicar porque é um bom negócio para o Paraná não concentrar esse tipo de atividades em Paranaguá e fazer com que o potencial de turismo e de outros negócios limpos deixe de ser a principal prerrogativa para o futuro no município de Pontal do Paraná e da Ilha do Mel, o segundo maior polo turístico do estado.

Mas deve ainda ir mais longe, aportando justificativas sobre a razão do apressamento na decisão de fazer o empreendimento da Faixa de Infraestrutura, quando o mesmo governo está gastando agora 10 milhões de reais em consultoria internacional para fazer um refinado e estratégico plano de Desenvolvimento Sustentável para o litoral do Paraná, que sinaliza sua finalização apenas em 2019.

Por fim, para deixar os paranaenses menos sobressaltados, precisa tornar público quem são os favorecidos diretos e indiretos pela construção da Faixa de Infraestrutura. Que sejam divulgados os sócios partícipes da JCR, todos que se beneficiarão de numa eventual, mas previsível, venda do porto para coreanos ou outros grupos internacionais. Haveria políticos e pessoas do executivo estadual na lista dos favorecidos?

Deve haver transparência absoluta para sabermos quem são todos os investidores e beneficiários com participação nos negócios que podem transformar Pontal do Paraná num grande centro industrial químico e petrolífero, além de desenvolver atividades portuárias de toda a espécie.

Se essas informações em conjunto forem convincentes em relação a sua licitude e pertinência, quem sabe, a população paranaense possa entender e até acatar a motivação desse grande investimento pretendido. Por enquanto, o que se tem é uma enorme interrogação pareada com suspeitas, mais do que justificáveis, por todos os lados.

Clóvis Borges é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), fellow da Ashoka, afiliado à Fundação Avina, membro do Conselho Consultivo do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e vice-presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Life. Também é conselheiro do Observatório de Justiça e Conservação (OJC). 
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