O que é o ESG?
A sigla, no português, é traduzida em ASG – Ambiental Social e Governança. Trata-se do conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança que pode ser usado para guiar investimentos e escolhas de consumo focadas em sustentabilidade. Na área dos investimentos, o ESG é aquela aplicação que incorpora fatores ambientais, sociais e de governança em suas metodologias e critérios de análise.
O objetivo é expandir o olhar para além das métricas tradicionais, incorporando na análise de investimentos os três elementos principais de cada letra da sigla. Os conceitos ambientais, sociais e de governança, estão divididos em fatores específicos, que têm relação com as operações de cada empresa e segmento.
Na área ambiental temos indicadores como o uso de recursos naturais, a quantidade de emissões de gases de efeito estufa, eficiência energética e gestão de resíduos e efluentes, por exemplo. Já na social, destacam-se as políticas e relações de trabalho, relações comunitárias, privacidade e proteção de dados e inclusão e diversidade. Para a área de governança se destacam elementos como a independência do conselho, remuneração da alta administração, gestão de risco sistêmica, ética e transparência.
Fernanda de Arruda Camargo, é sócia fundadora da Wright Capital Wealth Management, explica que quando surgiu, a ideia do termo ESG era criar um padrão para que as empresas pudessem reportar suas “pegadas de carbono” e sociais, seja de produtos ou serviços. “Esse virou um caminho sem volta. Os bancos, ao concederem empréstimo, já estão exigindo que as empresas divulguem dados como a emissão de carbono e a destinação de resíduos. Esse véu subiu, e todos terão que olhar para isso”, diz Fernanda.
Porque o termo anda ‘‘na moda’’?
No Brasil, começamos a ouvir com mais força o tema ESG em 2020. O número de pesquisas sobre o tema na internet cresceu verticalmente, muito embalado pelo interesse dos investidores e as movimentações nas bolsas de valores. Mas este índice cresceu muito também por conta da Geração Z, formada por pessoas nascidas em meados dos anos 90, e que têm uma visão de urgência sobre as questões ambientais, sociais e de transparência.
Essa geração não avalia apenas a estética, o custo ou a qualidade de um produto ou serviço, mas o que aquela compra traz de prejuízos ou benefícios para o mundo. Isso se traduz como a ‘pegada’ daquele produto ou serviço no planeta. Os novos consumidores, nativos do mundo digital, são altamente engajados e capazes de formar um exército online para, rapidamente, promover ou banir um produto ou serviço do mercado.
Mas não são apenas os jovens: uma pesquisa da XP Investimentos demonstrou que 81% dos consumidores acreditam fortemente que as empresas devem ajudar a melhorar o meio ambiente, e 61% estão muito ou extremamente preocupados com a poluição do ar, da água, com o uso de embalagens, geração de resíduos, entre outros. Esses resultados só confirmam que cada dia mais os consumidores estão muito preocupados com a pegada ambiental que cada empresa está deixando no planeta, funcionando como verdadeiros vigilantes de suas ações.
Para as empresas, um passo importante é tornar-se signatário do Pacto Global da Organização das Nações Unidas, assinando o termo de compromisso da Agenda 2030, que visa atingir 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, os ODS. O Pacto Global é uma convocação para que as empresas alinhem suas estratégias e operações a princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Meio Ambiente, Trabalho e Anticorrupção, desenvolvendo ações que contribuam para a solução dos problemas da sociedade. Após a adesão, é possível fazer uma avaliação de impacto e relacionar os ODS. Após este primeiro passo há diversas etapas que passam por certificações, análises e publicação de dados sobre as operações de cada empresa, e é aí que moram grandes surpresas.
Esse virou um caminho sem volta. Os bancos, ao concederem empréstimo, já estão exigindo que as empresas divulguem dados como a emissão de carbono e a destinação de resíduos. Esse véu subiu, e todos terão que olhar para isso.
É possível acreditar nas propaladas práticas de ESG de todas as empresas?
Aqui vale uma atenção especial ao greenwashing, que é quando uma empresa ou organização vende uma imagem de ser sustentável, mas isso não é aplicado na prática. Há inúmeros casos famosos que aplicaram este “marketing de fachada”.
No Brasil, temos exemplos de empresas que foram expostas por essa prática e até alvo de ações no CONAR – Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária, que determinou a retirada de propagandas do ar. Foi o que ocorreu com as três principais montadoras de automóveis do país. A plataforma “Proteste” obteve três vitórias denunciando o greenwashing contra as empresas FIAT, General Motors do Brasil e FORD. No caso da montadora italiana, ela vendia um carro com a informação de que os pneus eram “Super Verdes”. As outras duas, lançaram modelos com o nome incorporando o termo “Eco” aos nomes dos veículos. O CONAR entendeu que os anúncios não atendiam aos princípios da exatidão e precisão nas informações ambientais, que fazem dos dispositivos legais do conselho.
Outro trabalho sobre greenwashing de destaque no país foi conduzido pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, que realizou a pesquisa “Mentira Verde” entre novembro de 2018 e junho e 2019. Nela, o IDEC avaliou mais de 500 produtos em unidades das cinco principais redes de supermercados em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mais da metade deles (52%) foram classificados como greenwashing e, dos 243 classificados dessa forma, apenas 22 se comprometeram a adequar seus rótulos. O estudo completo pode ser conferido na página especial dedicada pelo IDEC ao tema em seu site www.idec.org.br/greenwashing.
Nem tudo que reluz é verde
Mais recentemente, a multinacional belgo-francesa Engie, que tem apostado na estratégia de “apelo ao sustentável” como comunicação institucional, também andou flertando com o greenwashing. A empresa que em 2017 venceu uma licitação federal pela instalar um sistema de linhas de transmissão de energia cortando o Paraná – de forma bastante ousada, para se dizer o mínimo. Ela batizou o megaprojeto de 2 bilhões de reais como “Sistema Gralha-Azul”, ave símbolo do Estado por ajudar a dispensar o pinhão, a semente das araucárias. A árvore é também símbolo máximo da Floresta com Araucárias ou FOM (Floresta Ombrófila Mista), gravemente ameaçada de extinção.
Ocorre que o projeto da Engie prevê a derrubada de 204 mil árvores nativas – 14 mil delas justamente araucárias adultas, afetando 2.485 hectares protegidos, em que estão Áreas de Preservação Permanente (APP), Reserva Legal (RL) ou Unidades de Conservação (UCs).
Mais recentemente, a empresa também se valeu de outros artifícios de propaganda verde, como um especial no veículo RIC TV, afiliada da Rede Record no Paraná, em que mais de 30 reportagens foram veiculadas ao longo dos últimos meses para ressaltar ações da empresa que serviriam como compensação ao impacto do projeto, como o plantio de mudas, o resgate de animais e o mapeamento de sítios arqueológicos. Sua chancela, tentando associar sua marca a eventos ou veículos com a temática ecológica, também é comum. Nenhuma “reportagem”, no entanto, trouxe as contestações ao impacto à fauna e flora preservadas na região, nem as contestações judiciais feitas pelos Ministérios Públicos do Paraná e Federal. Conforme já amplamente divulgado pela mídia, o processo de licenciamento está eivado de suspeitas de irregularidades, falta de transparência e atropelos ocasionados pela emissão acelerada da autorização das obras pelo Instituto Água e Terra (IAT), órgão licenciador do empreendimento.
Como saber se a preocupação ambiental está no DNA de uma empresa?
Há vários indicadores utilizados pelo mercado para atribuir uma “nota” às práticas de ESG de empresas, principalmente aquelas listadas em bolsa de valores. O S&P Dow Jones, por exemplo, criou índices para avaliar as práticas de empresas relacionadas às mudanças climáticas, emissões de carbono e direitos humanos. Ela mesma atesta que se não observados, estes quesitos podem criar enormes riscos aos mercados financeiros (saiba mais em www.spglobal.com). Assim, ela criou alguns índices e os batizou de acordo com algumas características, tais como: “The S&P 500 ESG Index, S&P MidCap 400 ESG index”, etc. No Brasil, a Bovespa utiliza o ISE B3, como um dos índices de sustentabilidade empresarial, qualificando empresas que “em tese” apresentam boas práticas de ESG.
Infelizmente, estes “ratings”, não podem servir como o único critério de avaliação, pois não são infalíveis. O governo da União Europeia, seriamente preocupado com a questão do greenwashing nas políticas de ESG nos fundos de investimentos europeus, sabe muito bem disso. Um dos gestores de fundo verde com melhor desempenho financeiro na Europa, Marcus Bjorksten, relata que apesar do grande frenesi envolvendo “investimentos sustentáveis”, a promoção de preocupações ambientais como um mero jogo publicitário é um problema real. Segundo ele, apesar de muitos fundos se dizerem ESG, acabam por investir em empresas que são as maiores emissoras de carbono do mundo.
De fato, o aumento exponencial de fundos de investimentos preocupados com práticas de ESG, muito em linha com os ODS da ONU, tem sido notável principalmente na Europa. Uma nova legislação europeia inclusive deverá entrar em vigor ainda em 2021, estabelecendo rígidos e claros critérios do que pode ser considerado efetivamente um investimento “sustentável”.
Para Fernanda Camargo, os investidores terão que ir além de olhar índices para saber se a empresa segue de fato os princípios de ESG. “Os critérios ESG são uma questão de cultura e processo. Não existe empresa que consegue ficar bem do dia pra noite. Isso depende muito de você analisar a cultura da empresa. Os investidores terão que investigar um pouco mais. Não adianta dizer que segue, mas ao mesmo tempo estar matando ou derrubando espécies ameaçadas, por exemplo”.
Certificação LIFE, uma iniciativa brasileira exemplar, internacionalmente reconhecida como confiável e eficiente
Entre tantas siglas e alguns “modismos”, tanto o consumidor que busca comprar ou investir em produtos ou marcas confiáveis, podem ficar desnorteados. Muito antes das siglas ESG e ODS serem conhecidas, uma iniciativa brasileira, despontou como exemplo a ser seguido quando se fala em negócios ecologicamente responsáveis. A Metodologia LIFE, aplicada em 50 unidades de negócio de 29 empresas no Brasil e exterior, vem ganhando notoriedade. Recentemente a Plataforma de Negócios e Sustentabilidade da União Europeia, atestou a metodologia LIFE como madura para avaliação da biodiversidade sobre os aspectos: desempenho atual e futuro, monitoramento de resultado e progresso, métrica comparativa entre unidades de negócio e setores, certificação de terceira-parte e divulgação de performance.
A certificação tem um foco diferenciado: ela busca compensar a pressão dos negócios à biodiversidade, possibilitando que as organizações quantifiquem objetivamente seus impactos nos recursos naturais. Regiane Borsato, gerente técnica do Instituto Life, explica que as novas gerações de investidores são mais criteriosas ao investir e estão buscando informações das empresas sobre seus históricos de degradação ambiental, trabalho escravo e corrupção. Para ela, não deveria se pensar em custos, quando uma empresa tem a ética como valor básico de atuação, ou seja, custo não deveria ser um critério para justificar escolhas pouco éticas.
De qualquer forma, adaptar-se a agenda ESG, representa um movimento não apenas na direção da ética, mas também na redução de riscos, como passivos ambientais e trabalhistas, resultando em ganhos financeiros para os negócios”. Para saber mais, acesse www.institutolife.org.
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