Música em defesa da maior área de proteção ambiental do Sul do Brasil viraliza e supera um milhão de visualizações em duas semanas

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O clipe da música “Pare. Preste Atenção!”, criada voluntariamente por um grupo de 40 “artivistas” para chamar atenção para a ameaça de redução de 70% da Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana, a maior unidade de conservação do Sul do País, viralizou e, em apenas duas semanas, superou a marca de um milhão de pessoas, só no Facebook.

O clipe, que conta com a participação do ator global Luis Melo, de integrantes da Banda Mais Bonita da Cidade, do humorista Diogo Portugal e do cantor Léo Fressato –compositor dos hits “Oração” e “Coisa Linda”, este último, feito em parceria com o cantor Tiago Iorc – foi compartilhado dia 29 de novembro na página do Observatório de Justiça e Conservação (OJC), que viabilizou a criação do clipe da música e apoiou o esforço dos artistas no desenvolvimento da canção.

Ele também já foi compartilhado por mais de 30 mil pessoas e, junto com o curta-metragem “Os Últimos Campos Gerais” – que explica as ilegalidades do projeto de lei que prevê a mutilação da área e tramita na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP-PR) – já soma mais de um milhão e trezentas mil visualizações.

Filme e clipe foram estimulados pelo OJC com o intuito de convidar a sociedade a pressionar os deputados a rejeitarem o projeto de lei. Até agora, mais de 120 mil e-mails já foram enviados pela população por meio do site www.osultimoscamposgerais.com.br. Acessado o endereço, uma mensagem aparece pronta para ser enviada aos deputados da casa. Basta que a pessoa informe os dados pessoais e clique em “enviar”.

Desde os primeiros dias após o filme ter sido lançado, as mensagens não chegam a três parlamentares: Ademar Traiano, presidente da ALEP-PR e um dos autores do projeto de lei (traiano@alep.gov.br), Stephanes Junior (escritório@stephanesjunior.com.br) e Professor Lemos (lemos@professorlemos.com.br). Este último, no entanto, já afirmou ser contra o projeto de lei e defendeu que “toda área ambiental deve ser preservada”.

 

Engajamento social entra para a história

Para o diretor-executivo do OJC, Giem Guimarães, o movimento e engajamento da população em torno da causa entram para a história da conservação de áreas naturais do Paraná e também do Brasil. “A campanha de defesa da APA foi imaginada como um convite ao exercício da cidadania. A sociedade está cansada dos desmandos do governo em todos os níveis e só precisa de um estímulo para se organizar. A corrupção chegou a níveis alarmantes, inadmissíveis e precisa ser combatida”, diz.

Raissa Fayet, cantora e compositora que criou a canção em parceria direta com Du Gomide, produtor musical, e com o rapper “O Vagabundo Nato”, defende que os resultados em visualizações e compartilhamentos do clipe só reforçam a importância do coletivo e da rede. “Com a união de forças e habilidades, qualquer transformação pode ser feita”, defende.

A polêmica

A Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana localizada no Paraná, na região dos Campos Gerais, foi criada em 1992 para proteger importantes remanescentes de Floresta com Araucária e Campos Naturais, dois ecossistemas associados ao bioma Mata Atlântica, mas que sofrem com décadas de abusos, exploração desenfreada e ausência de fiscalização do poder público. Ela soma características únicas no Brasil e no mundo, com formações rochosas milenares, sítios arqueológicos, paleontológicos e cavernas ainda desconhecidas, além do expressivo valor histórico. A APA foi rota de tropeiros que passaram pela região dos Campos Gerais no século 18.

Em todo o Paraná, mais de 99% dos ecossistemas em bom estado de conservação já foram degradados. Uma pesquisa feita em 2001 pelo Ministério do Meio Ambiente em parceria com a FUPEF (Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná), por exemplo, revelou que existiam apenas 0,8% de Floresta com Araucária em bom estado de conservação em relação às porções originais da floresta do estado, que chegou a ocupar 40% do território paranaense.

A situação dos Campos é ainda mais dramática. Em sua distribuição original, eles já ocuparam 13% de todo o território paranaense, caracterizando fortemente as paisagens de maior altitude do planalto estadual. Um estudo de 2001 publicado pelo Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO/Araucária), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), apontou que, na época, havia somente 0,24% desse ecossistema em estágio avançado de regeneração em todo Paraná.

Na APA da Escarpa Devoniana, que é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável, a proteção da biodiversidade deveria conviver em harmonia com atividades produtivas que são permitidas na região, como silvicultura, pecuária e mineração, por exemplo. O que ocorre, no entanto, é que o Plano de Manejo da área, que existe desde 2004, há anos vem sendo desconsiderado, bem como os limites de uso de solo. Não bastasse o fato de que muitos proprietários de terras da região não respeitam espaços que deveriam ser conservados, um projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP-PR) desde o final de 2016 quer reduzir 70% da área de proteção. Atualmente são 393 mil hectares de áreas compreendidas pela APA, mas, caso o projeto seja aprovado, a porção reduzirá para 126 mil.

Se isso ocorrer, não apenas os ecossistemas que ainda sobrevivem por lá serão drasticamente afetados, como se instituirá uma espécie de “anistia” aos crimes ambientais executados por quem nunca respeitou a legislação e as demarcações indicadas pela delimitação da APA em 1992, ou pelo plano de manejo.

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