Rodeada de polêmicas, a ideia da construção da “Faixa de Infraestrutura” no município de Pontal do Paraná, no litoral do estado, parece ter uma missão mais importante do que a aparente que observamos na batalha travada entre os seus defensores e questionadores.
O fato de termos toda a mobilização da população – tanto da Bacia Litorânea quanto da Serra do Mar – neste debate sobre desenvolvimento, já fortalece, por si só, a importância da construção de uma síntese em relação ao tema, que hoje envolve a sociedade com suas teses e antíteses.
Como consenso, temos o fato relevante de que o litoral do Paraná carece de investimentos em projetos executivos e obras que tragam a melhoria da qualidade econômica, social e ambiental dos aproximadamente 300 mil habitantes que vivem na região e desenvolvem diferentes atividades.
Além disso, há também o entendimento de que o patrimônio natural do litoral é um dos principais ativos econômicos do estado do Paraná e absolutamente singular do ponto de vista global. Assim, então, devemos, como sociedade, trabalhar fortemente na criação e na exigência de alternativas inteligentes para o desenvolvimento dos municípios de toda a região.
Mas, como, afinal, podemos fazer a conciliação entre desenvolver e preservar o meio ambiente? Diria que, primeiro, ouvindo e considerando todas as alternativas técnicas possíveis. E um exemplo dessa oportunidade de diálogo ocorreu no mês de agosto passado, quando, no dia 23, um grupo de pessoas e entidades que apoiam e participam da campanha #SalveAIlhaDoMel apresentou a representantes do Governo do Paraná – entre eles o secretário de Desenvolvimento Sustentável e Turismo, Márcio Nunes – um projeto alternativo ao atual da Faixa de Infraestrutura (leia mais aqui).
Ligando Praia de Leste a Pontal do Sul, mas com grande foco na aceleração do turismo e no estímulo ao comércio da região, a proposta prevê a construção de 33 km de rodovias, mais de 50 km de ciclo faixas e ciclovias e cinco mirantes. Soluções inversamente opostas às ideias do atual projeto da faixa, proposto por governos anteriores, que compreende a construção de um complexo industrial feito com dinheiro público para viabilizar um porto privado que seria feito em frente à Ilha do Mel, um patrimônio da humanidade reconhecido pela UNESCO.
Entre as obras da Faixa de Infraestrutura, estaria uma estrada, pensada unicamente para atender ao aumento do fluxo de caminhões, que passariam a transitar em volume ainda mais expressivo rumo ao porto. Estima-se que um volume de mais de 200 mil caminhões ao ano passe a trafegar pela região rumo ao porto. Infelizmente, nos moldes como vem sendo pensada, não atenderia à população e os turistas com eficiência.
Direta ou indiretamente, ela colocaria ao chão ou comprometeria cerca de 27 milhões de metros quadrados de Mata Atlântica em uma das últimas regiões a concentrar remanescentes em bom estado de conservação no Brasil e no mundo.
De modo contrário, a solução alternativa apresentada por apoiadores da campanha #SalveAIlhaDoMel – e custeada com recursos recolhidos por meio de uma campanha de financiamento coletivo – buscou indicar que existem opções alternativas de desenvolvimento e progresso para a região, que passam pelo estímulo ao turismo.
Enquanto no projeto da faixa há a previsão de mais de 300 hectares de área diretamente desmatada, o atual reduz este número para impressionantes 6 hectares. Já do ponto de vista econômico, temos uma diferença de valores entre R$ 369 milhões da Faixa de Infraestrutura e R$ 127 milhões no novo projeto. Está claro que não temos aqui uma discussão contrária ao desenvolvimento, mas, sim, a proposição de uma alternativa que, realmente, traga benefícios mais amplos à população.
Já dizia o filósofo romano Sêneca que “não existe vento favorável para quem não sabe onde deseja ir”.
A sociedade sabe para onde espera chegar e esse destino precisa percorrer a trilha da coragem. A coragem, que é uma das mais belas virtudes humanas, deve ser a arma para fazermos diferente tudo o que foi feito até agora.
Precisamos ter a coragem para enfrentar quem ainda defende que meio ambiente e desenvolvimento não podem dialogar. Os impactos ambientais podem ser tanto positivos quanto negativos. Precisamos buscar uma alternativa que traga o menor impacto econômico, social e ambiental possível.